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Sueddeutsche Zeitung, 24.Mai 2000

Oktett unter Palmen und ein unglücklicher Abbado

Was macht ein deutsches Orchester in São Paulo an einem freien Tag?

Was macht ein deutsches Orchester in São Paulo an einem freien Tag? Die Vorsichtigen unter den Berliner Philharmonikern schauen sich drei Stunden lang hinter Busfenstern eine Stadt an, die aus allen Ritzen zu quellen scheint. Links und rechts der Avenida Paolista standen einst die Villen der Kaffeebarone in Bananenhainen. Dahinter zogen sich Plantagen die Hügel hinab, wo heute ein Meer aus Hochhäusern bis zum Horizont wogt. 15 bis 20 Millionen Einwohner, so genau weiß das keiner, müssen untergebracht sein. Angesichts der Angst, in dieser Masse verloren zu gehen, ziehen sich die vorsichtigeren Musiker lieber in das Luxusgefängnis des Hotels zurück.
Die Mutigeren unter ihnen wagen sich in ein voll besetztes Fußballstadion mit Bodyguards, die ihnen auch auf der Toilette nicht von der Seite weichen. Oder sie fahren ans Meer, 100 Kilometer weiter zum alten Kaffeehafen Santos mit seiner schönen Promenade. Was die Fleißigen (und Geschäftstüchtigen) nicht davon abhält, ebenso wie in Buenos Aires ein Privatkonzert für die sponsernde Bank zu geben. Schuberts Oktett klingt auch unter Palmen, stellt das Scharoun-Ensemble fest. Abends dann Konzert.
Das effektvoll beleuchtete (und ebenso bewachte) Teatro Muncipal sieht aus wie eine fein renovierte Mischung aus Pariser Oper, Theater des Westens und Konditorei Dehmel. Vier Ränge, schmiedeeiserne Brüstungen und eine Verdi-Büste mit der Berufsbezeichnung "Genio Musical" auf dem Sockel. Das Publikum ist großstädtisch elegant, doch Mahlers 9. Sinfonie diesmal keine gute Wahl. In der topfigen Akustik entsteht kaum Spannung, die Leute dämmern weg oder husten sich eins. Dazu ein Knarzkonzert altersschwacher Sperrholzstühle. Claudio Abbado sieht nicht glücklich aus. Wir bleiben dran. bru

 A apresentação precisa da Filarmônica de Berlim

Rafael Perez/Reuters
O maestro Claudio Abbado
Interpretação de Claudio Abbado no Municipal prima por conciliar técnica e emoção

LAURO MACHADO COELHO
Especial
No equilíbrio perfeito entre precisão e emoção interiorizada, com que conduziu o longo Adagio final, culminou a interpretação dada por Claudio Abbado à Sinfonia nº 9 em ré maior, de Gustav Mahler, à frente da Filarmônica de Berlim. Foi ali, mais do que na visão analítica do Andante commodo inicial, ou na forma como o regente explorou os detalhes irônicos, parodísticos dos movimentos centrais - o final do Rondo-Burleske realizado de maneira absolutamente eletrizante -, que transpareceu o sólido senso de forma de Abbado.
O arco gigantesco desse movimento final, de uma nobreza e de um estoicismo brucknerianos, mas também perpassado às vezes por passagens agitadas, cheias de paixão, construiu-se com extrema clareza. E evoluiu de maneira tão impressionante para as últimas frases, em que a sinfonia morre literalmente em pianíssimos impalpáveis, que um longo silêncio se seguiu ao momento em que a orquestra se calou - como se o público hesitasse em romper, com o aplauso, o instante de recolhimento produzido por esta peça que é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre a morte e um cântico de amor à vida, que se fecha numa resignada visão da eternidade.
Nesse último movimento, mais do que em qualquer outro, o público pôde sentir o que é a celebrada sonoridade da Filarmônica de Berlim, na opulência das cordas - mas também na segurança com que elas graduam efeitos de dinâmica de uma extraordinária riqueza -; na infalível precisão dos sopros, na naturalidade da harmonização entre os diversos naipes.
Seria fácil, com músicos de tantos recursos, ceder à tentação do virtuosismo puro, sobretudo num movimento de fortes contrastes como o segundo, em que, a um tema lírico reminiscente da sonata Les Adieux de Beethoven, responde uma valsa truculenta, que parece anunciar o Ochs do Cavaleiro da Rosa ou, mais adiante, a trágica cena do baile na taverna, do Wozzeck de Berg.
Desafiante - Mas, a um maestro como Claudio Abbado, o que interessa é a visão de conjunto, que dá uma arquitetura lógica e organizada à mais árdua das sinfonias de Mahler, cujos quatro movimentos em tonalidades contrastantes e com uma disposição de andamentos insólita - dois enormes tempos lentos, de atmosfera muito intensa, enquadrando dois movimentos rápidos, de tom irônico - sempre desafiou os analistas, e exige do ouvinte enorme concentração.
Ele faz perfeitamente perceber que o Adagio retoma, depois do parênteses representado pelos turbulentos movimentos centrais, o final hesitante, inconcluso do Andante commodo inicial, que opta pelo silêncio mais do que pela resolução.
Esse primeiro movimento, em especial, do qual Alban Berg dizia que era a página mais extraordinária escrita por Mahler, é extremamente difícil. A substância temática dessa ampla forma de sonata está o tempo todo em processo tão fluido de metamorfose, mais por procedimentos de variação do que pelas costumeiras técnicas de desenvolvimento, que é muito fácil dar-lhe um caráter fragmentado, descosido.
Mas a sinfonia não corre esse risco nas mãos de um regente como Abbado que, sem esquecer a emoção de que está impregnada essa afirmação de amor à vida, no momento mesmo em que o compositor pressente a ameaça da morte rondando à sua volta, faz uma leitura lúcida, clara, das diversas estruturas de que Mahler lança mão, simultaneamente, para construir essa marcha fúnebre cheia de explosões apaixonadas.
Fazendo a síntese da linguagem das sinfonias anteriores, mas também antecipando os elementos de uma linguagem futura - que a morte não deixaria se desenvolver -, "pondo em relação", como escreve Marc Vignal, "o caos e a organização, o amorfo e o dinâmico, o silêncio e o grito, a morte e a vida", esse primeiro movimento da Nona de Mahler se constrói superpondo técnicas: a forma de sonata geral, o processo de variação, a forma do rondó (na maneira como o tema central, em ré maior, retorna periodicamente), ou a irrupção do estilo concertante nas diversas intervenções dos solistas, de grande complexidade.
Foi extraordinária a forma como Abbado unificou todos esses elementos contrastantes, na primeira apresentação da Filarmônica de Berlim no Teatro Municipal. Em especial no centro do movimento, no instante em que as forças antagonistas chocam-se com violência, naquilo que Alban Berg, em sua análise da sinfonia, dizia ser a passagem anunciadora da morte - trecho que, aliás, numa anotação à margem da partitura, Mahler pede que seja "como um pesado cortejo fúnebre".
O desenvolvimento subseqüente decompõe-se em solos de extrema complexidade, superpondo frases de caráter improvisatório, das flautas, da trompa, as cordas graves, exigindo a mão firme do regente - como o John Barbirolli da grande gravação de 1964, com essa mesma formação berlinense - para que ele mantenha a sua coerência. Foi o que se assistiu, segunda-feira, na Nona regida por Claudio Abbado.
Nas armadilhas do primeiro movimento, que ele deslindou de forma límpida; nos brilhantes achados dos tempos intermediários; e sobretudo na profundidade do movimento final, Abbado ofereceu ao público presente no Teatro Municipal uma experiência estética tão intensa, que se explica a longa hesitação do público em romper, com o aplauso, a mágica criada pela sua execução.

 Orquestra Filarmônica de Berlim encanta São Paulo

Globo.com

 

O público brasileiro vem aplaudindo de pé as apresentações da Orquestra Filarmônica de Berlim. Em seus 118 anos de história, a tradicional orquestra está se apresentando pela primeira vez no país. Depois de duas apresentações, nas noites de segunda (22) e terça-feira (23), ainda haverá mais um concerto na capital paulista (no Teatro Municipal, às 21h, nesta quarta-feira, dia 24) e um no Rio de Janeiro, na próxima sexta-feira, dia 26, encerrando a turnê. No programa das apresentações na capital paulista estão duas sinfonias de Beethoven - a sexta e a sétima -, a nona sinfonia de Gustav Mahler, "Noturnos", de Claude Debussy, a nona sinfonia de Dvorák e "La Valse", de Ravel.

O maestro Claudio Abbado (foto), italiano de 66 anos, à frente da Orquestra desde 1989, quando substituiu o austríaco Herbert von Karajan, se diz muito feliz em se apresentar em palcos brasileiros. Em entrevista ao jornal O Globo, o maestro declarou que "há uma grande influência da música da América Latina nos compositores europeus" e que "compositores como Beethoven, Schubert, Brahms e Stravinsky, criaram suas músicas, muitas vezes, a partir da música folclórica".

Abbado renunciou ao título de maestro vitalício, não seguindo o exemplo de seus antecessores, e dará lugar ao jovem inglês Simon Rattle em 2002. O italiano, comprovando o estilo inovador, executou obras contemporâneas e resgatou peças esquecidas.

Para a próxima temporada, estão planejados concertos que mostrarão a influência do jazz nos grandes compositores do século XX. O programa inclui músicas de Stravinsky, Gershwin, Duke Ellington e Wynton Marsalis, entre outros.

Filarmônica de Berlim toca vida e morte de Mahler


ARTHUR NESTROVSKI 24/05/2000 09h53
da equipe de articulistas da Folha de S.Paulo

A música veio do nada: o maestro Abbado imóvel, a orquestra calada por um longo tempo, tocando silêncio. E a música se foi no silêncio também: o maestro parado, a orquestra sem dar um respiro, até o primeiro aplauso, que abriu as comportas da ovação. Entre um e outro infinito, a Orquestra Filarmônica de Berlim tocou tudo e nada, a vida e a morte de Gustav Mahler (1860-1911), reencenada no Municipal, numa noite de segunda-feira.

Não se pode falar da música de Mahler sem falar de conceitos como memória, experiência, esperança, exílio. A sinfonia está para a música como o romance de Proust para a literatura. Que isso se traduza em ritmos e melodias é outro modo de ver como a "Nona" anuncia a música nova. Não é qualquer orquestra que consegue dar conta simplesmente de achar seu caminho na vertigem da sinfonia, esses 75 minutos de música total. A Filarmônica vai além.

Que ela toque com precisão, energia, intensidade e sentido de conjunto é o mínimo que se espera. O mínimo da Filarmônica já seria o máximo de qualquer boa orquestra; e, no concerto de segunda, ela não chegou a mostrar o que pode ser o seu máximo. Espremida no palco, diminuída pela acústica, encabulada pelo range-range da platéia, a Filarmônica tocou Mahler mesmo assim. Não foi o máximo, mas foi, talvez, o possível nas circunstâncias do Teatro Municipal.

O maestro Claudio Abbado, a um ano de se aposentar, mostra-se tão inteiramente senhor da música que dá pena pensar nesse como o último Mahler à frente da orquestra no Brasil. Mahler é o compositor da experiência e demanda um maestro da experiência. As ironias e paródias, as acelerações e fulgurações da vida em carrossel, a transformação da banalidade em abstração, as visões de felicidade passada, que a música encena variadamente nessa grande sinfonia-romance, tudo isso é matéria de vida para o regente também.

É a música no limite, para um regente capaz não só de acompanhá-la, mas de moldá-la da perspectiva de quase um século depois: um século de música. Stravinski e Schoenberg têm papel no Mahler de Abbado, em especial, acrescentando cargas novas a essa música que é, ao mesmo tempo, do passado e do futuro da modernidade. Mas nada impressiona tanto em Abbado, que toca tudo de memória, quanto a própria noção da memória, memória humana preenchendo a música e capaz até, no final, de inverter o seu sentido e narrar a própria morte.

Em outras circunstâncias, teria sido, talvez, um concerto inigualável. Impressionante como foi, não chegou a ser o que poderia; seja pelo teatro, pela platéia, seja por outros mistérios do destino.

A intensidade das cordas de Berlim é inesquecível; a inteligência da orquestra é um dos pontos altos da civilização; essa música diz tudo e nos deixa, agora, entregues ao que se passa entre um silêncio e outro, nos extremos da sinfonia. Com tudo isso, faltou a explosão última, ou o conhecimento último, que essa música guarda, os músicos guardam com eles, e Abbado só pôde fazer vislumbrar, em momentos de clarividência, nesse concerto maravilhoso e oblíquo.

O quê: Concerto da Orquestra Filarmônica de Berlim
Regente: Claudio Abbado
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/ nº; tel. 0/xx/ 11/223-3022)
Quando: hoje (quarta-feira), às 21h